Isto
- Diogo Curto
- 26 de jul. de 2020
- 1 min de leitura
Não! Para já, não continuo assim. Lá vens tu com as tuas leituras pré-concebidas e ideias pré-feitas da escrita que vais ler.
Não entras aqui com essa tua tempestade mental que vais esborratar o preto no branco à tua imagem paleada. Não te peço que tenhas uma revelação de liberdade objetiva, mas que pelo menos sacudas alguns preconceitos no tapete. Não o fazes por mim. Quero dizer, fazes, mas tu também podes tirar vantagens desta minha chamada de atenção: sentir.
Sentir. Fecha os teus olhos ineficientes e tateia o que te divulgo esquecendo a minha existência como teu semelhante imperfeito que escreve humanamente. Faz de ti politeísta e das palavras divindades numa mitologia tua. Concentra-te em ti que agora te trato na minha primeira pessoa.
Sinto as palavras a passarem por mim honestamente, apenas com boas intenções. Cada construção gramatical é a correta e cada palavra a única no dicionário. Leio o que me parece ser um texto sem início nem fim, mas sólido. Leio sem pressas, pausadamente, ouvindo o bater de cada palavra num eco corporal.
Já nem nunca vivi, não viverei amanhã. Toda a minha existência se resume a esta experiência cósmica, pairando eu no breu do espaço não descoberto. Fui o primeiro e o último a aqui chegar, mas tenho companhia pois a solidão não me afeta nesta minha prosa partilhada. O drama da infinitude temporal não me atinge, este é o presente. O drama da infinitude espacial não me atinge, este é o local.
A minha única necessidade, voltei à minha única necessidade. Felicidade é o que prevalece aqui. Apenas escrevo “felicidade”, apenas leio “felicidade”, apenas penso “felicidade”, apenas sinto… sinto apenas.
Diz: “felicidade”.
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