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A maioria quer crescer

Quando outros querem crescer, eu quero o contrário

Pois sempre que aumento por fora

(E estou aqui a falar de experiência empírica)

Diminuo por dentro

Acho também que, sempre que, por fora, diminuo

Por dentro cresço

E se, consequentemente, o interior tocar o exterior

A alma a matéria

Sou

E que pretensões temos, para além de ser?



A maioria quer crescer, eu quero o contrário

Quero colidir em mim próprio

Definir-me, limitar-me, reduzir-me

Que me dobrem e enfiem numa gaveta

Fechem a sete chaves,

Estarei seguro

E inalterável para toda a eternidade

Serei o que sou

Sou o que fui

Pequeno, insignificante

Pois serei absoluto

Absolutamente minúsculo

Todos saberão onde estou, porque estou, quando estou, como estou, o que sou

Não haverá dúvidas, não haverá vida

Nessa gaveta escreverei

Coisas verdadeiras, coisas reais


Mas duma caixa de Pandora

Não saiem coisas belas

E madeira apodrece

Nada de pequeno pequeno é

Ser pequeno é ter grandeza

E sê-la futuramente

Rebentando e criando

Começando e acabando

Primeiro com a gaveta

(Por mais doce que o lar seja, nunca é eterno)

Depois com o seu conteúdo

(Já devias saber, o absoluto é relativo e a relatividade absoluta)

E, com uma reviravolta emocionante,

Findava.



Crescer é o desejo de uma maioria, só de uma maioria.

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