Folha de papel
- Diogo Curto
- 20 de dez. de 2020
- 1 min de leitura
Segura uma folha de papel e contempla-a.
Momentos separam essa folha de papel que te pedi para segurares da possibilidade desta sofrer um fenómeno que a pode alterar irremediavelmente.
Está nas tuas mãos corromper a sua branca virgindade, tanto quanto essa folha, branca como está, está nas tuas mãos.
Essa folha é um mundo, tu és outro e ambos se podem destruir. É arrebatador perceber o quanto de nós cada coisa pode ser, e ainda que nós somos compostos por coisas. Mas o cair nessa realidade estéril de pouco nos serve, porque o que, na realidade que escolhemos, dita o nosso peso é a nossa cabeça e não uma gravidade que nos transcende, sendo que, para os que acham que é uma gravidade que nos transcende, é. Por esse detalhe pode ser e não ser ao mesmo tempo. É essa a beleza do relativismo.
Sim, tu sabes que o destino dessa folha está nas tuas mãos, mas que mãos são essas? Serão mesmo tuas? O que as move? Em que mãos estás tu? Por essa ordem de ideias concluo que tudo possui e tudo é possuído, sendo a posse um conceito vazio.
Sim, podes fazer de tudo a essa folha, mas isso de nada te vale se já souberes o que lhe vais fazer desde o início. Aquele início. O início que nunca houve e que é um marco tão marcante no nosso calendário. Toda a gente sabe quando foi, ninguém te o sabe dizer.
E assim não sentes o que te disse que sentias, sentes o que sempre sentiste, em relação a uma folha de papel branca.
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